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Uruburetama vive turbulência política um ano após queda de prefeito

Após Hilson de Paiva perder o mandato em meio a acusações de assédio sexual, o vice, Artur Nery, assumiu o cargo

Um ano após o afastamento do médico José Hilson de Paiva da Prefeitura de Uruburetama, acusado de estuprar dezenas de pacientes, o município passa por novas turbulências, envolvendo disputas políticas pelo comando da gestão, enquanto o caso segue na Justiça. Tudo ocorre em plena pandemia da Covid-19, quando é maior a demanda da população por assistência do poder público.

Em julho de 2019, Uruburetama ganhou as páginas do noticiário nacional com as denúncias, reveladas pelo Sistema Verdes Mares, de assédio sexual praticado pelo então prefeito e médico há mais de 30 anos. Mais de 60 vídeos mostram cenas dos abusos contra pacientes. O "Dr. Assédio", como ele ficou conhecido, foi preso no ano passado. Já em abril deste ano, o ex-prefeito foi solto e enviado para prisão domiciliar.

Vereadores do município relatam o quanto o caso deixou marcas em Uruburetama. "A questão Hilson de Paiva foi um mito quebrado, desvendado no nosso município, muito impactante. Até hoje tem mulheres traumatizadas", conta Hélio da Vó (PRB).

Não bastasse esse trauma, menos de um ano após episódio, Uruburetama passa por novas turbulências, desta vez, envolvendo o prefeito que assumiu o cargo no lugar de Hilson, seu vice, Artur Nery (PSD). Ele é acusado de se ausentar da Prefeitura por mais de 50 dias e de falsificar a assinatura de atos administrativos. Segundo acusações, o filho dele, vereador Alexandre Nery (PSD), até então secretário de Administração, estaria despachando no seu lugar.

Saúde

O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) solicitou a instauração de inquérito policial para investigar as denúncias, as quais governistas atribuem motivações políticas. Alexandre nega as acusações. O pai está internado desde maio em Fortaleza, por causa de complicações da Covid-19. Segundo o filho, ele está se recuperando, mas não faz previsões de quando Nery voltará à Prefeitura. "Deixo para os médicos fazerem suas avaliações. Na hora em que ele estiver bom, vai assumir", diz.

Diante da situação, a Justiça determinou o afastamento de Artur Nery da Prefeitura e a presidente da Câmara Municipal de Uruburetama, Stela Rocha (MDB), que trouxe à tona as denúncias, assumiu o comando da gestão. Ela tomou posse no último dia 3 de julho. Enquanto isso, a cidade vive sob tensão, em meio a mudanças administrativas. Esta é a terceira da última eleição de 2016 para cá.Por trás disso tudo, há disputas entre as forças políticas locais. Passados dez dias da gestão de Stella Rocha, de um lado, vereadores aliados de Artur Nery, e, do outro, aliados da prefeita interina trocam acusações sobre a gestão. Na Câmara, nove dos 11 parlamentares são opositores a Stella e, portanto, aliados de Nery.

Robério Costa (PT) afirma que o município está abandonado. "Lixo tá tendo em todo canto da cidade. O salário dos servidores está atrasado, menos da Educação, que tinha sido adiantado. O pessoal vai atrás de ambulância e diz que não tem gasolina", relata.

Já Ricardo Barroso (PDT) diz que as alegações de colegas são "precipitadas". "Se existem salários atrasados, deviam vir da administração anterior. Hoje, estão alegando que nada presta, há algumas semanas era tudo bom. Ao invés de estarmos dando as mãos, continuam as mesmas coisas", reclama.Troca de acusações

Alexandre Nery, que reassumiu o cargo de vereador, após o afastamento do pai, afirma que a atual prefeita está fazendo uma "devassa" na gestão, afastando servidores e empresas que, segundo ele, já haviam sido contratadas por licitação. "Nesses dez dias, ela demitiu todos os comissionados, como se prefeita (eleita) fosse, e tínhamos dinheiro em caixa para construir Areninha".

Segundo Alexandre, a gestão do pai entregou a Prefeitura com o pagamento do funcionalismo público em dia, "não devendo a fornecedor". O filho de Artur Nery diz que deve se reunir com os parlamentares nesta semana para discutir a situação.

Já a atual prefeita classifica como as acusações como perseguição política. Stella Rocha afirma que está fazendo uma auditoria nas contas da gestão e, ao contrário do que disse Alexandre Nery, detectou dívidas. "Inadmissível ter conta atrasada de R$ 100 mil. Outra situação delicada: compra de pneus de ambulância. Pneus no arame, sem ser novos".

Histórico

A prefeita interina nega falta de limpeza nas ruas. "Estão todos admirando", conta. Sobre a folha de servidores, diz que não pagou ainda, porque tinha que "pegar senhas". "A folha da Saúde é a última a ser paga, sempre até o dia 12 do mês seguinte. Até amanhã (hoje) a gente está pagando". Stella Rocha confirma que exonerou os servidores comissionados, porque "pegou" a informação de que o gasto com pessoal já era de quase 70%.

A prefeita interina era aliada de José Hilson de Paiva e, desde a época da gestão do prefeito cassado, ocorrem disputas políticas em Uruburetama. O então vice, Artur Nery, havia rompido com Hilson. Quando ele foi afastado da Prefeitura, brigas pelo comando da gestão se intensificaram.

Questionada sobre a aliança com José Hilson de Paiva, Stella Rocha confirma e completa: "assim como eu, mais seis vereadores". E finaliza, afirmando que foi eleita em 2016 por um partido coligado ao do ex-prefeito.

MPCE

O processo contra José Hilson de Paiva, o 'Dr Assédio' permanece tramitando na Justiça. Um ano depois dos crimes sexuais repercutirem na mídia, o Ministério Público do Ceará (MPCE) aguarda a marcação das audiências para as oitivas das testemunhas de defesa. A Promotoria de Justiça de Uruburetama informou que após o depoimento das testemunhas, deve haver o interrogatório de José Hilson. Atualmente, o médico e ex-prefeito de Uruburetama está em prisão domiciliar por integrar o grupo de risco da Covid-19.

O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) informou por nota que o processo está em tramitação regular aguardando o retorno de cartas precatórias encaminhadas a outro Juízo. O Tribunal informou que a ação tramita em segredo de Justiça, razão pela qual não podem ser repassadas mais informações.

A defesa do ex-prefeito, representada pelos advogados Leandro Vasques e Afonso Belarmino, disse que, até o momento, ao longo da instrução criminal, foram reveladas informações como a decadência da prescrição, porque os vídeos onde acusado e vítimas aparecem datam de muitos anos atrás. Os advogados destacam que "não houve ocorrência do crime de estupro".

Os advogados afirmam ainda que as pessoas indicadas pelo Ministério Público em suas denúncias, seja em Uruburetama ou em Cruz, vítimas ou testemunhas, afirmaram que jamais foram ameaçadas por José Hilson de Paiva, mesmo antes do início dos processos ou quando ele estava em liberdade.

Contra o "Dr. Assédio" há processos que tramitam nas varas das comarcas de Cruz e Uruburetama. Quando Paiva saiu da unidade prisional, duas das dezenas de vítimas do médico disseram temer pelo fato dele não estar mais em um presídio.

"Foi um choque. Ele tinha que ficar preso. Eu não duvido que ele fuja para cá. Agora vou ficar insegura e assustada de novo. Isso para mim é um pesadelo. Queria mesmo que a Justiça fizesse ele pagar. Vou pedir misericórdia a Deus", disse uma delas.

Outra, também ainda surpresa com a decisão, se perguntou: "Será se um preso pobre, com a idade que ele tem e que seja doente, também vai ter esse direito de liberdade?"

14 de JUL de 2020 às 09:28:26
Fonte: DIÁRIO DO NORDESTE
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Um ano após o afastamento do médico José Hilson de Paiva da Prefeitura de Uruburetama, acusado de estuprar dezenas de pacientes, o município passa por novas turbulências, envolvendo disputas políticas pelo comando da gestão, enquanto o caso segue na Justiça. Tudo ocorre em plena pandemia da Covid-19, quando é maior a demanda da população por assistência do poder público.

Em julho de 2019, Uruburetama ganhou as páginas do noticiário nacional com as denúncias, reveladas pelo Sistema Verdes Mares, de assédio sexual praticado pelo então prefeito e médico há mais de 30 anos. Mais de 60 vídeos mostram cenas dos abusos contra pacientes. O "Dr. Assédio", como ele ficou conhecido, foi preso no ano passado. Já em abril deste ano, o ex-prefeito foi solto e enviado para prisão domiciliar.

Vereadores do município relatam o quanto o caso deixou marcas em Uruburetama. "A questão Hilson de Paiva foi um mito quebrado, desvendado no nosso município, muito impactante. Até hoje tem mulheres traumatizadas", conta Hélio da Vó (PRB).

Não bastasse esse trauma, menos de um ano após episódio, Uruburetama passa por novas turbulências, desta vez, envolvendo o prefeito que assumiu o cargo no lugar de Hilson, seu vice, Artur Nery (PSD). Ele é acusado de se ausentar da Prefeitura por mais de 50 dias e de falsificar a assinatura de atos administrativos. Segundo acusações, o filho dele, vereador Alexandre Nery (PSD), até então secretário de Administração, estaria despachando no seu lugar.

Saúde

O Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE) solicitou a instauração de inquérito policial para investigar as denúncias, as quais governistas atribuem motivações políticas. Alexandre nega as acusações. O pai está internado desde maio em Fortaleza, por causa de complicações da Covid-19. Segundo o filho, ele está se recuperando, mas não faz previsões de quando Nery voltará à Prefeitura. "Deixo para os médicos fazerem suas avaliações. Na hora em que ele estiver bom, vai assumir", diz.

Diante da situação, a Justiça determinou o afastamento de Artur Nery da Prefeitura e a presidente da Câmara Municipal de Uruburetama, Stela Rocha (MDB), que trouxe à tona as denúncias, assumiu o comando da gestão. Ela tomou posse no último dia 3 de julho. Enquanto isso, a cidade vive sob tensão, em meio a mudanças administrativas. Esta é a terceira da última eleição de 2016 para cá.Por trás disso tudo, há disputas entre as forças políticas locais. Passados dez dias da gestão de Stella Rocha, de um lado, vereadores aliados de Artur Nery, e, do outro, aliados da prefeita interina trocam acusações sobre a gestão. Na Câmara, nove dos 11 parlamentares são opositores a Stella e, portanto, aliados de Nery.

Robério Costa (PT) afirma que o município está abandonado. "Lixo tá tendo em todo canto da cidade. O salário dos servidores está atrasado, menos da Educação, que tinha sido adiantado. O pessoal vai atrás de ambulância e diz que não tem gasolina", relata.

Já Ricardo Barroso (PDT) diz que as alegações de colegas são "precipitadas". "Se existem salários atrasados, deviam vir da administração anterior. Hoje, estão alegando que nada presta, há algumas semanas era tudo bom. Ao invés de estarmos dando as mãos, continuam as mesmas coisas", reclama.Troca de acusações

Alexandre Nery, que reassumiu o cargo de vereador, após o afastamento do pai, afirma que a atual prefeita está fazendo uma "devassa" na gestão, afastando servidores e empresas que, segundo ele, já haviam sido contratadas por licitação. "Nesses dez dias, ela demitiu todos os comissionados, como se prefeita (eleita) fosse, e tínhamos dinheiro em caixa para construir Areninha".

Segundo Alexandre, a gestão do pai entregou a Prefeitura com o pagamento do funcionalismo público em dia, "não devendo a fornecedor". O filho de Artur Nery diz que deve se reunir com os parlamentares nesta semana para discutir a situação.

Já a atual prefeita classifica como as acusações como perseguição política. Stella Rocha afirma que está fazendo uma auditoria nas contas da gestão e, ao contrário do que disse Alexandre Nery, detectou dívidas. "Inadmissível ter conta atrasada de R$ 100 mil. Outra situação delicada: compra de pneus de ambulância. Pneus no arame, sem ser novos".

Histórico

A prefeita interina nega falta de limpeza nas ruas. "Estão todos admirando", conta. Sobre a folha de servidores, diz que não pagou ainda, porque tinha que "pegar senhas". "A folha da Saúde é a última a ser paga, sempre até o dia 12 do mês seguinte. Até amanhã (hoje) a gente está pagando". Stella Rocha confirma que exonerou os servidores comissionados, porque "pegou" a informação de que o gasto com pessoal já era de quase 70%.

A prefeita interina era aliada de José Hilson de Paiva e, desde a época da gestão do prefeito cassado, ocorrem disputas políticas em Uruburetama. O então vice, Artur Nery, havia rompido com Hilson. Quando ele foi afastado da Prefeitura, brigas pelo comando da gestão se intensificaram.

Questionada sobre a aliança com José Hilson de Paiva, Stella Rocha confirma e completa: "assim como eu, mais seis vereadores". E finaliza, afirmando que foi eleita em 2016 por um partido coligado ao do ex-prefeito.

MPCE

O processo contra José Hilson de Paiva, o 'Dr Assédio' permanece tramitando na Justiça. Um ano depois dos crimes sexuais repercutirem na mídia, o Ministério Público do Ceará (MPCE) aguarda a marcação das audiências para as oitivas das testemunhas de defesa. A Promotoria de Justiça de Uruburetama informou que após o depoimento das testemunhas, deve haver o interrogatório de José Hilson. Atualmente, o médico e ex-prefeito de Uruburetama está em prisão domiciliar por integrar o grupo de risco da Covid-19.

O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) informou por nota que o processo está em tramitação regular aguardando o retorno de cartas precatórias encaminhadas a outro Juízo. O Tribunal informou que a ação tramita em segredo de Justiça, razão pela qual não podem ser repassadas mais informações.

A defesa do ex-prefeito, representada pelos advogados Leandro Vasques e Afonso Belarmino, disse que, até o momento, ao longo da instrução criminal, foram reveladas informações como a decadência da prescrição, porque os vídeos onde acusado e vítimas aparecem datam de muitos anos atrás. Os advogados destacam que "não houve ocorrência do crime de estupro".

Os advogados afirmam ainda que as pessoas indicadas pelo Ministério Público em suas denúncias, seja em Uruburetama ou em Cruz, vítimas ou testemunhas, afirmaram que jamais foram ameaçadas por José Hilson de Paiva, mesmo antes do início dos processos ou quando ele estava em liberdade.

Contra o "Dr. Assédio" há processos que tramitam nas varas das comarcas de Cruz e Uruburetama. Quando Paiva saiu da unidade prisional, duas das dezenas de vítimas do médico disseram temer pelo fato dele não estar mais em um presídio.

"Foi um choque. Ele tinha que ficar preso. Eu não duvido que ele fuja para cá. Agora vou ficar insegura e assustada de novo. Isso para mim é um pesadelo. Queria mesmo que a Justiça fizesse ele pagar. Vou pedir misericórdia a Deus", disse uma delas.

Outra, também ainda surpresa com a decisão, se perguntou: "Será se um preso pobre, com a idade que ele tem e que seja doente, também vai ter esse direito de liberdade?"

14 de JUL de 2020 às 09:28:26
Fonte: DIÁRIO DO NORDESTE